quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

Artigo - Fobia de Dirigir

Psicoterapia Cognitivo-Comportamental Aplicada à Fobia de Dirigir
Elisa Sant’Anna Martins 1.



RESUMO


A fobia de específica de dirigir corresponde a um transtorno de ansiedade que há tempos vem sendo estudada pelos profissionais da área da saúde mental, devido ao grande número de indivíduos acometidos pelo problema. Neste artigo, serão descritas as causas e tratamentos dessa fobia sob o enfoque da psicologia cognitivo-comportamental, pois a mesma tem sido amplamente utilizada nos tratamentos, por mostrar eficácia num prazo curto de tempo. Serão abordadas técnicas cognitivas e comportamentais no tratamento como a dessensibilização sistemática, exposição ao vivo, reestruturação cognitiva, entre outras.

Palavras–chave: Transtornos de ansiedade, fobia de dirigir, terapia cognitivo-comportamental, técnicas de modificação do comportamento.

INTRODUÇÃO

A terapia cognitivo-comportamental (TCC), constitui-se de uma intervenção direta, objetiva e orientada para as metas, enfocando os fatores cognitivos e comportamentais no tratamento dos transtornos de ansiedade. Esta abordagem psicológica há tempos tem proposto e divulgado diversas técnicas no tratamento das fobias.
Segundo Bernik e Lotufo-Neto apud Gentil e Lotufo-Neto (1996), foi somente a partir de 1870 que surgiram descrições acuradas a respeito dos quadros fóbicos, iniciado pela contribuição de Westphal sobre agorafobia. Contudo, foi somente no ano de 1947 que receberam diagnósticos próprios na Classificação Internacional de Doenças (CID) e no ano de 1952 na Classificação da Associação Psiquiátrica Americana (DSM).
De acordo com os autores, Marks em 1970 classificou os quadros fóbicos em agorafobia, fobia social e fobias específicas. Esta classificação foi utilizada na DSM-III, DSM-IIIR e no CID-X.
Costa e Lanna apud Rangé (2001), salientam que diversos estudos demonstram que as fobias específicas são os problemas mais comuns na área dos transtornos fóbicos.
Já Buchalla (2003) sustenta que duas de cada dez pessoas estão propensas a desenvolver algum tipo de fobia.
Cordioli e Teruchkin (2004) afirmam que a fobia corresponde a um medo persistente, desproporcional e irracional de objetos, situações ou atividades que não são perigosas, mesmo a pessoa sabendo que o seu medo não é justificado.
Marks apud Cordioli e Teruchkin (2004), dividiu as fobias em dois grupos:
· Fobias a estímulos externos: agorafobia, fobia social, fobia a animais e a outros estímulos específicos;
· Fobias a estímulos internos: fobias de doenças e fobias obsessivas como o transtorno obsessivo-compulsivo (TOC).
De acordo com o DSM-IV-TR (2002), existem subtipos específicos que indicam o foco do medo da fobia específica. São eles:
· Tipo animal: medo de animais ou insetos podendo se iniciar na infância;
· Tipo ambiente natural: medo de objetos ou situações do ambiente natural como tempestades, água, etc., podendo se iniciar na infância;
· Tipo sangue (injeção/ferimentos): medo de ver sangue, ferimentos ou por temer a se submeter a procedimentos médicos;
· Tipo situacional: o medo é causado por uma situação específica, como andar de elevador, transportes coletivos, dirigir, permanecer em locais fechados, etc. Ele tem distribuição bimodal de idade de início, com pico na infância e outro na metade da faixa dos 20 anos de idade;
· Outro tipo: medo de outros estímulos como asfixia, vômitos, contrair doenças, etc.
O DSM-IV-TR (2002) ainda estabelece critérios diagnósticos para a fobia específica como:
a) Medo acentuado persistente ou irracional desencadeado pela presença ou antecipação do objeto fóbico;
b) A exposição ao estímulo fóbico provoca uma resposta de alta ansiedade, podendo se tornar Ataques de Pânico ligado à situação fóbica;
c) O indivíduo reconhece que o medo é excessivo e irracional;
d) A situação fóbica é evitada com muita ansiedade e sofrimento;
e) A recusa, a antecipação ansiosa e o sofrimento interfere significativamente na rotina normal do indivíduo;
f) Em indivíduos com menos de 18 anos, a duração mínima é de seis meses;
g) A ansiedade, os ataques de pânico ou a esquiva fóbica associados com o objeto ou situação específica não são explicados por outro transtorno mental como: Transtorno Obsessivo-Compulsivo, Transtorno de Estresse Pós-Traumático, Transtorno de Ansiedade de Separação, Fobia Social, Transtorno de Pânico com Agorafobia ou Agorafobia Sem Histórico de Transtorno de Pânico.
Com relação à fobia específica de dirigir, Vieira (2004) defende que a enfermidade começou a ser estudada em meados dos anos 70 e atualmente é tratada em clínicas de psicologia e auto-escolas especializadas.
Prado e Carvalho (2004) defendem que o medo de dirigir pode estar vinculado a alguns motivos como:
· Trauma psicológico: alguma experiência traumática com acidentes de trânsito;
· Problemas emocionais: baixa auto-estima, insegurança, ansiedade, angústia e timidez;
· Pouco conhecimento acerca do funcionamento do veículo;
· Falha no sistema de trânsito.
Os autores indicam que a fobia de dirigir aparece na hora em que a pessoa precisa conduzir o seu veículo. Neste momento, ela desencadeia a ansiedade apresentando sintomas fisiológicos como sudorese, alteração da respiração, aceleração cardíaca, etc., comprometendo suas funções psicológicas no ato de dirigir, imobilizando-a.
Ballone (2004) afirma que ainda não se sabe a origem das fobias, podendo estar envolvidas heranças genéticas dos traços ansiosos de personalidade, aprendizagem das reações frente ao perigo e alterações dos neurotransmissores.



ETIOLOGIA



Segundo a abordagem comportamental, a etiologia das fobias não é conhecida e com isso, considera-se que sejam medos aprendidos, obedecendo a processos de aprendizagem (Costa e Lanna apud Rangé, 2001).
Os autores citados, estudos demonstraram que algumas pessoas podem se condicionar mais lentamente que outras nas fobias, afinal podem ser sujeitos introvertidos, com altos graus de neuroticismo e dependentes.
Cordioli e Teruchkin (2004) descrevem que o modelo comportamental considera as fobias como medos aprendidos por condicionamento ou por transmissão de informações ou instruções. Já de acordo com a abordagem cognitiva, a ansiedade se dá por conseqüência da avaliação errada feita pelas pessoas da ameaça e perigo frente às situações ou estímulos e os recursos que possuem para enfrentá-los. Com isso, são evocados pensamentos automáticos de natureza catastróficos tomados como verdadeiros.


TRATAMENTO PSICOTERÁPICO


Na avaliação para o tratamento da fobia de dirigir, deve-se determinar a natureza do transtorno e a motivação para a psicoterapia e definir metas.
Como a fobia é um medo aprendido, na psicoterapia o fóbico vai “desaprender” o medo.
Na técnica da psicologia comportamental, utiliza-se a dessensibilização sistemática (DS), na qual o paciente é treinado com técnicas de relaxamento no consultório a vivenciar o medo numa seqüência de situações que produzem a fobia em graus crescentes, associado ao relaxamento muscular (Costa e Lanna apud Range, 2001).
Segundo os autores com a DS, utiliza-se a exposição ao imaginário, expondo ao paciente de maneira lenta e repetidas vezes, estímulos que desencadeiam respostas de ansiedade. Na exposição ao vivo, não há relaxamento, podendo em algumas situações utiliza-se de técnicas de respiração como a diafragmática. Nesta exposição o terapeuta juntamente com o paciente elabora uma escala hierárquica da situação da fobia, a partir do menor para o maior grau de ansiedade.
No caso da fobia de dirigir, é feita uma escala das situações ansiogências até as mais altas e insuportáveis ao paciente. Após é aplicado a DS com técnicas de relaxamento expondo ao imaginário situações frente a ansiedade de dirigir das suportáveis para as mais insuportáveis. Após esta etapa, faz-se a DS com a exposição ao vivo, real, levando o paciente até o carro e vivenciando a fobia.
Na técnica da psicologia cognitiva, é elaborada a reestruturação cognitiva com o intuito de fazer o paciente identificar os pensamentos distorcidos e substituí-los por pensamentos reais e objetivos acerca da fobia específica. São modificados valores e crenças do sujeito.
Neste caso, o paciente registra os pensamentos disfuncionais e as reações psicológicas e fisiológicas evocadas quando entra no carro e tem que dirigir. Após isso, trabalha-se em consultório questionando a veracidade dessas crenças irreais.
Salienta-se ainda que quando o paciente começa a perceber que é capaz de tolerar altos níveis de ansiedade sem se tornar incapacitado, pode aumentar seu autocontrole e desta forma diminuir a fobia.
Cordioli e Teruchkin (2004) indicam que o tratamento na fobia é breve, podendo variar de um a três meses, dependendo da relação terapêutica. As sessões devem ser semanais no início do tratamento e com o decorrer do processo psicoterápico, obedecer a espaços quinzenais e mensais como as sessões de reforço e prevenção da recaída.
Stringuetto e Castellón (2004) sustentam que deve-se aliar medicamentos como os antidepressivos quando a fobia está associada a quadros de depressão.
O tratamento baseado na abordagem cognitivo-comportamental tem sucesso em até 80% dos casos em apenas três meses de psicoterapia (Buchalla, 2003).


CONCLUSÃO


Sabe-se que é cada vez maior o número de pessoas que sofrem de transtornos de ansiedade, podendo desencadear fobias específicas como a de dirigir. Essa fobia comum atinge de igual forma pessoas de qualquer status intelectual, social e econômico.
Constata-se que em geral as pessoas só procuram ajuda quando se sentem incapazes de enfrentar sozinhas o problema, pois nos estágios iniciais, o medo parece tão absurdo que tentam vencê-lo por meio da razão.
Também outro fator que pode agravar o desenvolvimento da fobia é que a família e os amigos tendem a ridicularizar o comportamento fóbico.
Nos seres humanos as respostas de medo são acompanhadas por sintomas internos desagradáveis que funcionam como proteção ao perigo. A fobia de dirigir pode provocar atitudes características que podem ser observadas e descritas, tornando-se mais fácil a identificação do foco necessária ao tratamento psicoterápico.
Se a fobia de dirigir não receber intervenção adequada, o transtorno pode tornar-se presença constante. Assim, se o indivíduo não aprender a exercer controle rigoroso de seus pensamentos acerca dos perigos de dirigir, o medo se estenderá e ocupará momentos de vigília e até de sono.
Com isso, conclui-se que é muito difícil vencer o medo apenas pela força de vontade, sem ajuda especializada. Portanto, no momento em que o indivíduo admite que precisa de auxílio psicológico, está apto a enfrentar o tratamento, obter sucesso e conseguir superar o trauma.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


BALLONE, G. J. Medos e Fobias & Outros Bichos. In: PsiqWeb Psiquiatria Geral, Internet. Disponível em . Extraído em 16/03/2004.
BERNIK, M. A., LOTUFO-NETO, F. Transtornos Fóbicos – Ansiosos. In: GENTIL FILHO, V. & LOTUFO-NETO, F. Pânicos, Fobias e Obsessões. São Paulo: Edusp, 1996.
BUCHALLA, A.P. Você Tem Medo de Quê? Revista Veja. São Paulo: Abril. 05. nov. 2003.
CORDIOLI, A.V., TERUCHKIN, B. Fobias Específicas: terapia cognitivo-comportamental. Internet. Disponível em . Extraído em 16/03/2004.
COSTA, M.R.S, LANNA, A. Fobias Específicas. In: RANGÉ, B. Psicoterapias Cognitivo-Comportamentais: um diálogo com a psiquiatria. Porto Alegre: Artmed, 2001.
DSM-IV-TR. Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais. Porto Alegre: Artmed, 2002.
PRADO, M.M.M., CARVALHO, R.C.A.L. Fobia e Trânsito. Internet. . Extraído em 16/03/2004.
STRINGUETO, K., CASTELLÓN, L. Você Tem Medo de Quê? Revista Isto É. São Paulo: Três Editorial. nº 1586. 23. fev. 2000.
VIEIRA, J.L. Meu Inimigo, O Carro. Revista Época. São Paulo, Globo. ed. 59. 05.set.1999.

Nota:
1. Psicóloga. Capacitação para Psicólogo Perito Examinador de Trânsito. Núcleo de Psicologia do Trânsito e Transporte (PSITRANS). Universidade Federal de Santa Catarina – Florianópolis, SC, Brasil. E-mail: elisasmartins@hotmail.com.

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