domingo, 28 de março de 2021

Um Ano de Pandemia da Covid-19: Os Impactos na Saúde Mental das Crianças e Adolescentes

 

Caracterizar o Covid-19 como uma pandemia não é uma indicação de que o vírus se tornou mais mortal. É sim um reconhecimento da propagação geográfica da doença.

O “novo normal” – termo que popularizou e que retrata as medidas de afastamento e distanciamento sociais, uso de máscaras, álcool em gel e sanitização de alimentos devido aos impactos do coronavírus, ou seja, medidas de um novo padrão que podem garantir a sobrevivência humana nos força a conviver em um ambiente hostil e incerto que o vírus trouxe, ao mesmo tempo em que nos testa a resiliência, a abertura a mudanças, o autoconhecimento e a colaboração.

Pelo menos 1 em cada 7 crianças teve sua saúde mental afetada pelo confinamento, com sintomas como ansiedade, depressão e isolamento, informa o Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância). 

De acordo com a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), agência da ONU responsável por acompanhar e apoiar a educação, comunicação e cultura no mundo, a pandemia da COVID-19 já impactou os estudos de mais de 1,5 bilhão de estudantes em 188 países – o que representa cerca de 91% do total de estudantes no planeta.

Dados da OMS (Organização Mundial de Saúde) mostram que, no mundo, a depressão entre crianças na faixa dos seis aos 12 anos saltou de 4,5% para 8% na última década. O crescimento alarmante leva à outra consequência: o aumento dos suicídios. Informações da Secretaria de Gestão de Trabalho e de Educação na Saúde do Ministério da Saúde revelam que o suicídio é a segunda principal causa de morte entre jovens brasileiros de 15 a 24 anos de idade. O período da pandemia alterou significativamente a rotina das crianças e adolescentes, fator que coloca a saúde mental em risco. O tempo de tela aumentou, a rotina do sono e da alimentação foi prejudicada, a prática de exercícios e atividades fora de casa foi limitada e o conflito familiar cresceu. Tudo isso gera trauma e, no pós-covid, pode ser um fator de risco importante para a piora da saúde mental. 

O distanciamento social e as alterações da psicologia infantil marcadas por estresse psicológico, ansiedade, medo, preocupação têm acentuado ou feito surgir adversidades funcionais ou comportamentais nas crianças, como mostra os dados do Comitê Científico Núcleo Ciência pela Infância: 36% de dependência excessiva dos pais; 32% de desatenção; 29% de preocupação; 21% de problemas no sono; 18% de falta de apetite; 14% de pesadelos; e 13% de desconforto e agitação.

Ainda de acordo com os documentos da OMS, a busca por atendimento especializado em saúde/saúde mental deve ocorrer em situações nas quais o sofrimento seja muito intenso e persistente, associado a pensamentos ou conduta suicida, sintomas psicóticos ou abuso recorrente de substâncias. Se por um lado é informado que os transtornos psiquiátricos imediatos mais comuns são a depressão e as reações de estresse agudo transitórias, e as mais tardias podem incluir, além da depressão e do uso prejudicial de substâncias, o transtorno do estresse pós-traumático, os transtornos de adaptação e quadros psicossomáticos; por outro lado, há a preocupação com a medicalização do mal-estar e do cuidado. Aqui habitamos a zona cinzenta situada entre a normalidade e a patologia, entre o sofrimento individual e o social.

As crianças com deficiência, especificamente, estão expostas a um maior risco de contaminação pelo vírus por diferentes motivos, como por exemplo: - dificuldades de implementar medidas básicas de higiene, como a lavagem das mãos (pias e lavatórios podem ser inacessíveis);- impossibilidade de manter o distanciamento social, dada a necessidade de apoio contínuo para atividades da vida diária;- possíveis condições de saúde preexistentes relacionadas à função respiratória, ao sistema imunológico, ao coração, dentre outras;- uso de tecnologias assistivas, como cadeiras de rodas, bengalas e outras, somado à assistência de terceiros para direcionamento e transferências, por exemplo, aumentando a exposição ao risco de contágio;- barreiras no acesso à informação sobre medidas de prevenção e de enfrentamento (ausência de recursos de audiodescrição, libras, legendas, linguagem simples, meios e formatos pouco acessíveis nos materiais de divulgação).

Dentre as reações emocionais e alterações comportamentais frequentemente apresentadas pelas crianças durante a pandemia, destacam-se: dificuldades de concentração, irritabilidade, medo, inquietação, tédio, sensação de solidão, alterações no padrão de sono e alimentação. 

Destaca-se também que nesse momento, o uso das telas (TV, smartfones, tablets, computadores) tem sido um aliado importante na manutenção dos laços sociais e afetivos das crianças. Embora o tempo diante de telas precise ser observado, e seja necessário garantir a adequação e a qualidade do conteúdo, há de se ter mais flexibilidade em seu uso. A Sociedade Brasileira de Pediatria que  oferece parâmetros para o uso de telas fora das situações de crise, indica que o tempo diário seja adequado à idade da criança, devendo-se desencorajar a exposição passiva. Tais recomendações não se aplicam aos casos de crianças não-verbais, que fazem uso da tecnologia como recurso de comunicação suplementar aumentativa. Nestes casos, o livre acesso deve lhes ser garantido, cuidando para que possam brincar também com menor necessidade das telas. 

Estima-se que a idade da criança também interfere na forma como ela reage à pandemia. As crianças menores, por serem mais dependentes dos pais, vão lidar com a pandemia muito em função de como os pais estão lidando e como o ambiente está organizado. As crianças maiores sentem falta dos amigos. Elas já têm capacidade maior de compreensão de uma forma autônoma, muitas vezes não completamente adequada, ou de uma forma não completamente realista, e podem interpretar de forma mais catastrófica algumas situações. 

Uma vez que o fechamento das escolas é um desafio para as famílias encontrarem uma forma de conseguir lidar com a disponibilidade e/ou condição adequada para garantir o estudo das crianças, constata-se um risco maior de prejuízo à formação educacional infantil. Além disso, faz-se essencial ressaltar que, na primeira infância, não é recomendado o ensino a distância, por questões de saúde e pedagógicas e de acordo com a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), o uso de telas não é recomendado para menores de dois anos e para as crianças com idade entre 2 e 5 anos é indicado o máximo uma hora por dia. Outrossim, a aplicação do ensino à distância para criança contraria a Base Nacional Comum Curricular, visto que a mesma reforça a ideia de que a criança aprende por meio de experiências lúdicas, concretas e interativas, e virtualmente isso não é possível. 

Acredita-se que a retomada das aulas presenciais ou híbridas pode ser benefica para a saúde mental e desenvolvimento infantil, desde que garantidas as medidas de segurança aos alunos e profissionais da educação. Cada família deve avaliar essa possibilidade.


Ainda pode-se levar em consideração que nem todas as crianças terão acesso a esse tipo de ensino uma vez que de acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) (2017) apenas 31% dos estudantes do ensino fundamental da rede pública têm acesso a computador/tablet e acesso com banda larga. Posto isto, crianças que vivem numa família em situação de pobreza além de sofrerem com as faltas de recursos adequadas ainda passam pelas aflições comuns de toda a sociedade.


Nesse sentido, conforme estudo de pesquisadores ingleses, a comunicação efetiva dos pais e dos cuidadores com as crianças baseada na idade e na capacidade de compreensão particular do infante mostra evidências positivas. Nesses âmbitos, estudos apontam a importância para a saúde e o bem-estar da criança proporcionados por diálogos que buscam escutar e entender os sentimentos e a percepção infantil da doença COVID-19 acerca de assuntos como transmissão do vírus. Uma vez que principalmente as crianças pré-escolares apresentam um conhecimento mais fantasiado, uma interpretação pessoal infantil pode repercutir com uma manifestação de estresse emocional marcado pelo medo desnecessário.


Por um longo tempo é possível que os efeitos gerados da pandemia persistirão no Brasil e serão refletidos no quantitativo e no qualitativo, da saúde, do desemprego, no desenvolvimento infantil, em especial em relação a parte da população menos favorecida.

REFERENCIAS:

https://guiadoestudante.abril.com.br/atualidades/os-impactos-psicologicos-do-ensino-a-distancia/

https://www.fiocruzbrasilia.fiocruz.br/wp-content/uploads/2020/05/crianc%cc%a7as_pandemia.pdf

https://www.scielosp.org/article/physis/2020.v30n2/e300214/

https://residenciapediatrica.com.br/detalhes/643/as%20implicacoes%20da%20pandemia%20da%20covid-19%20na%20saude%20mental%20e%20no%20comportamento%20das%20criancas

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