O comportamento anormal ou patológico pode ter origem
na própria criança (fator biológico) ou no ambiente (fator social), bem como da
interação desses dois fatores. Para caracterizá-lo, devem ser considerados os
seguintes fatores, entre outros:
·
Idade;
·
Constituição
física;
·
Desenvolvimento
(período em que a criança se encontra);
·
Ambiente
cultural;
·
Conduta e
personalidade dos pais e irmãos;
·
Tensões e traumas
da vida cotidiana, aos qual a criança fica exposta;
·
Meios de
adaptação a essas pressões;
·
Processos
envolvidos na maturação da personalidade infantil.
Quando se detecta alguma anormalidade após a
verificação de todos esses fatores, é necessário, ainda, que ele faça uma
análise a respeito da permanência das características apresentadas. A criança
pode estar vivendo uma fase difícil, que será provisória ou não, dependendo de
suas condições em superá-la.
Quadro de comportamentos para recém-nascidos até 6
meses de vida
Atitude adequada
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Problemática
|
Tendendo ao anormal
|
Ajustamento
fisiológico à vida extra-uterina.
Aceitação
dos mecanismos de comer, dormir, etc.
Domínio
sobre os reflexos.
Relação
simbiótica com a mãe.
Atividade
de sucção.
Chora
quando desconfortável.
Reage
a estímulos: boca, pele, som e luz.
Fisiologicamente
instável.
Egoísmo
acentuado.
Dependência
total.
Não
demonstra raciocínio.
Aprende
a “aguardar” as atitudes dos adultos.
Demonstra
afeto pelas pessoas que “cuidam” dele.
|
Dificuldades
na alimentação e complicação digestiva: vômitos, cólicas, disenteria etc.
Dificuldades
no sono. Excesso de sucção. Excesso de atividade motora (agitação).
Choro
em excesso.
Irritabilidade
demasiada.
Difícil
de acalmar.
|
Apatia
e depressão. Indiferença.
Choro
contínuo e monótono.
Gritos
sem motivo aparente.
Não
reage aos estímulos.
Não
suga.
Não
percorre as etapas normais de desenvolvimento.
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Quadro de comportamentos para crianças de 6 meses a 18
meses
Atitude adequada
|
Problemática
|
Tendendo ao anormal
|
Fisiologicamente
mais estável.
Maior
atividade motora e exploradora do ambiente.
Maior
paciência e tolerância.
Melhor
controle dos instintos.
“Distingue”
os estranhos.
Muito
ligado ainda à mãe.
Aumento
no número de palavras utilizadas.
Conduta
mais sociável.
Alegre
e brincalhona.
Crises
de raiva e negativismo.
“Manias”
pessoais.
Capacidade
de memória e antecipação.
Início
da imitação.
|
Excesso
de choro, irritabilidade e raiva.
Pouca
tolerância. Excesso de negativismo.
Dificuldades
na alimentação e sono.
Dificuldades
no controle das evacuações.
Padrões
motores evidentes: chupar o dedo, balançar-se etc.
Desenvolvimento
retardado em algumas etapas.
|
Crises
temperamentais muito freqüentes.
Convulsões
repetidas.
Apatia,
imobilidade e isolamento.
Excesso
e caráter obsessivo em padrões motores: chupar o dedo, balançar-se, mover a
cabeça de lado a lado ou contra o berço etc.
Falta
de interesse pelo ambiente, por objetos ou por brincar.
Falta
de apetite acentuado. Falta de emotividade.
Não
demonstra ligação com a mãe.
Desenvolvimento
estacionário.
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Quadro de comportamentos de crianças até 5 anos
Atitude adequada
|
Problemática
|
Tendendo ao anormal
|
Satisfação
com os exercícios de habilidades neuromotoras (pular, comer, recortar etc.).
Investigação,
imitação e uso da imaginação.
Atos
moderados pelo raciocínio.
Boa
memória.
Autonomia
nas funções corporais (comer, controle dos esfíncteres).
Dependência
materna e medo de separação.
Identificação
no comportamento com os pais, irmãos e amigos.
Aprende
a falar para se comunicar.
Sentimentos
intensos emocionais (vergonha, culpa, alegria, amor e desejo de agradar).
Padrões
interiorizados do bom e mau.
Começa
a testar a realidade.
Perguntas
sobre o nascimento e morte.
|
Má
coordenação motora.
Dificuldades
persistentes na fala (gagueira, perda de palavras).
Timidez
com pessoas e experiências.
Medos
e terror noturno.
Dificuldades
no comer, dormir, eliminação, higiene corporal, desmame etc.
Irritabilidade,
choro e crises temperamentais.
Infantilização.
Impossibilidade
de deixar a mãe sem sentir pânico.
Medo
de estranhos.
Crises
de perda de fôlego.
Falta
de interesse na companhia de outras crianças.
|
Extrema
agitação ou, então, passividade.
Letargia
(torpor ou sonolência).
Fala
pouco ou nada; não é comunicativa.
Não
reage às pessoas, não se relaciona com elas.
Doenças
somáticas: vômitos, diarréias, prisão de ventre, erupções, tiques.
Introversão
profunda.
Enurese
excessiva.
Não
controla as fezes.
Medo
excessivo de tudo.
Infantilidade
grave.
Ausência
ou excesso de atividade auto-erótica (masturbação).
Comportamentos
obsessivo-compulsivos como rituais.
Comportamentos
destrutivo-compulsivo como queimar, rasgar e destruir.
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Quadro de comportamentos de crianças de 5 a 12 anos
Atitude adequada
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Problemática
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Tendendo a anormal
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Saúde
física boa, aguda percepção sensorial.
Orgulho
e confiança em si mesma; menor dependência dos pais.
Melhor
controle dos impulsos.
Ambivalência
em relação à dependência, separação e novas experiências.
Aceita
a função do próprio sexo.
Tem
consciência do mundo natural como vida, morte, nascimento.
Aprecia
a interação com colegas.
Respeita
as leis sociais.
Pensamento
operacional concreto.
Responde
ao aprendizado.
Fala
como instrumento de raciocínio e expressão.
Pensamentos
ainda egocêntricos.
|
Ansiedade.
Falta
de concentração, dificuldade no aprendizado, falta de motivação no estudo.
Delinqüência,
ostentação, mentira, furto, explosões temperamentais, conduta anti-social.
Comportamento
regressivo, enurese, evacuações, choros, medos.
Aparecimentos
de rituais e tiques.
Dificuldades
na alimentação, sono, dores, erupções, mal-estar indefinido.
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Retraimento
excessivo; apatia, depressão, tristeza, tendências à auto-eliminação.
Incapacidade
completa no aprendizado.
Dificuldade
na fala, gagueira.
Conduta
anti-social excessiva (agressividade, mentira, destruição, roubo, crueldade
com animais).
Comportamentos
obsessivo-compulsivos como rituais, fobias, fantasias.
Incapacidade
de distinguir a realidade da fantasia.
Exibicionismo
sexual excessivo.
Incapacidade
de desenvolvimento, falta de apetite, obesidade, hipocondria.
Completa
ausência de relacionamento interpessoal.
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MARCELLI,
D. Manual de Psicopatologia da Infância
de Ajuriaguerra. Porto Alegre: Artmed, 1998.